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domingo, 3 de junho de 2012

Xixi na rua, masculinidade e repressão feminina: 1a parte



É possível que o título desse texto tenha levado vocês a pensarem porque decidi falar de algo aparentemente tão pouco garboso e talvez até sem nexo em lugar do post que eu  havia prometido sobre minha rápida incursão em Buenos Aires. Mas se você acompanha o blog está acostumado com esses descaminhos curiosos e, além disso, minhas anotações e reflexões na Argentina virão, assim como as histórias que estou devendo ainda sobre a Fazenda Pedra Negra.

A primeira provocação aqui diz respeito ao termo xixi para designar a conhecida urina. Quando pedi opinião ao meu querido, ele que é autenticamente mente aberta questionou o uso do termo, que indica certa infantilidade ou, pelo menos, pouca masculinidade. Mas o fato é que acho urina uma palavra feiona, que fica melhor em contextos laboriatológicos e hospitalares, então vou insistir no uso de xixi mesmo.

De qualquer forma, o que quero tratar no texto são algumas relações que vejo entre o ato de fazer xixi (ou mijar, como preferem os socialmente másculos de plantão), o universo masculino e a repressão feminina no contexto de uma educação essencialmente machista.

Vejam, não me considero uma pessoa careta nem com excessivos melindres a atitudes que, em geral, incomodam mulheres mais sensíveis. Pelo contrário, minha acidez me ajuda a compreender e aceitar, sem problemas, brincadeiras escatológicas e mesmo piadas porquinhas até na hora de comer. Contudo, não tolero rapazes e homens feitos mijando em paredes, árvores, cantos, escadarias e portas de lojas, ou seja, em locais públicos, o que considero uma enorme falta de respeito e, mesmo vendo isso muito mais do que acharia aceitável para uma sociedade que se pensa civilizada, não consigo me acostumar.

Lembro que desde bem moça tal façanha de mal gosto me incomodava bastante e eu dizia as minhas amigas adolescentes da época que, ao invés de passarmos vexadas quando nos deparávamos com uma dessas cenas, deveríamos, isso sim,  deixar os caras vexados, afinal, eles é que estavam sendo inoportunos. Minha proposta era que nos aproximássemos em várias meninas e ficássemos encarando o sujeito e seu pinto com olhar firme. Pensava que até poderíamos fazer um comentário do tipo “e nem é tudo isso”, mas depois, com a maturidade, percebi que essa última parte do meu plano era machista e a abortei. De toda forma, não consegui nunca adeptas para me acompanhar nessa empreitada e o máximo que consigo sozinha é fazer insignificantes comentários repreensivos em altura suficiente para que os malas mal-educados ouçam.

Uma questão que me provoca nessa conduta de mijar publicamente é sua relação com a representação de masculinidade na nossa sociedade e os valores transmitidos pela educação destinada a formar homens e mulheres.

Observe-se que desde pequeninos os garotos fazem xixi em qualquer lugar com a anuência de suas mães. (Digo mães porque embora eu defenda que os pais deveriam ser tão responsáveis e tão cobrados pela educação dos filhos quanto as mães, esse meu mundo ideal ainda está por vir). Diferente deles, as meninas, mesmo pequenas, tem de esperar até chegar em casa ou a um local apropriado para usar o banheiro.

Nesse ponto, os mais simplistas poderiam dizer que isso ocorre porque, evidentemente, é muito mais fácil para os meninos tirarem o pintinho de dentro da roupa e fazerem xixi mirando em algo do que para as meninas se abaixarem e fazerem xixi escorrendo pelas pernas. Mas discordo que seja somente uma questão de viabilidade aí implícita. Pelo contrário, penso que essa suposta viabilidade é mais um dos mecanismos utilizados para reprimir as meninas em suas vontades, afinal, crianças são crianças e se a menina pode esperar até chegar em casa, com o menino não precisaria ser diferente.

Giovanna Antonelli com seu filho em frente a restaurante no Rio.
 Ou seja, se não é o "estar muito apertado" ou a possibilidade de fazer xixi na roupa o motivo principal, se a vontade é a mesma para meninos e meninas, o que mais justificaria as meninas terem de se segurar enquanto meninos podem fazer xixi na rua sem precisar reprimir sua vontade senão uma educação machista e repressora de mulheres?

Outro indicativo dessa repressão às meninas contraposta a uma educação que deixa os meninos muito à vontade é o fato de que aos meninos é permitido mostrar o pipi: ele pode tirá-lo de dentro da roupa e fazer xixi a céu aberto e dificilmente sofrerá uma reprimenda por isso ou verá alguém indignado com sua atitude como algo escandaloso. Por outro lado, se uma menina abaixasse a roupa e mostrasse sua vagininha da forma ostensiva como os garotos podem mostrar seus pipis publicamente, duvido muito que ela não seria reprimida com palavras de ordem ou pelo menos vestida imediatamente para corrigir a atitude fora de padrão.

Assim, desde cedo os meninos são educados em meio a essa simbologia de liberdade  em relação à sua sexualidade, enquanto as meninas tem o não como principal indicativo:  um não que proíbe tanto aliviar sua vontade quanto mostrar seu sexo. E vejam, não defendo que as meninas tenham esse direito, não se trata disso mas de refletir sobre elementos que, a meu ver, representam parte dessa educação repressora de mulheres.

O fato é que muitos caras já adultos parecem não ver inadequação nessa atitude e continuam a mijar por aí a torto e a direito. Talvez por terem sido educados dessa forma é que muitos sujeitos se acham no direito de  sair mostrando seus pintos em plena luz do dia, sentindo-se autorizados a mijar em qualquer lugar. Encontrei até uma defesa de que "mijar no muro é um direito sagrado do homem". Tudo bem que o autor defende que esse muro estaria numa "rua deserta" onde não há "ninguém para olhar", mas não é exatamente o que acontece na vida real.


Aparentemente, outro direito considerado sagrado é o de mijar em pé, estreitamente relacionado - para muitos homens - à afirmação da famigerada masculinidade. Tratarei disso na segunda parte desse texto.

Achei muito interessante este post do blog




Um comentário:

  1. Detesto esse ato. Aqui na minha cidade tem ruas insuportáveis de fedor!
    Passa no meu blog :D
    Beijos :*
    www.so-beleza.blogspot.com.br

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