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domingo, 24 de junho de 2012

Xixi em pé, afirmação da masculinidade e repressão feminina: 2a parte

Na primeira parte deste texto estávamos conversando sobre como meninos são incentivados a fazerem xixi na rua - ou pelo menos isso é liberado a eles - enquanto às meninas é dada uma outra forma de educação, repressora da sexualidade feminina.


Conversamos também sobre como essa conduta permanece depois de crescidos esses meninos, e mesmo sendo considerado um crime previsto em lei, com notícias recentes de pessoas presas por fazerem xixi na rua, a prática prossegue bastante comum e, segundo o próprio juiz que julgou um caso do tipo, a conduta é "socialmente correta".


Outra dimensão dessa conduta, um pouco mais íntima mas nem por isso menos sagrada para os rapazes, é a relação entre poder mijar em pé e a afirmação da masculinidade.


Não havia me questionado ainda sobre isso até que fui morar na residência estudantil na universidade. Os apartamentos eram mistos - ainda são na verdade - e comecei a achar absurdo que os caras sujassem o sanitário sendo que nós, meninas, teríamos de nos sentar ali, o que, a meu ver, além de nojento e desrespeitoso para conosco ainda poderia provocar doenças tais como infecção urinária, afinal, a vagina é um sexo aberto, muito mais propício à entrada de micróbios e outros seres nocivos à saúde do que o pênis.

Imagem de http://www.fotolog.com.br/
Pensando nisso e preocupada com minha filhotinha que acabara de sair do piniquinho e começaria a usar o sanitário falei com o estudante que iria morar comigo no apartamento se ele poderia fazer xixi sentado no nosso banheiro. Ele, por sua vez, ficou indignado, dizendo que isso era um absurdo e, para argumentar em cima da ilegitimidade do meu pedido, disse que nunca sujava o vaso quando fazia xixi, que tinha uma boa mira e até contou uma historinha de como a avó dele tinha ensinado um método perfeito para enxugar o pipi depois do xixi de forma a não vazar nem uma gotinha.

Eu sabia que não poderia obrigar ninguém a acatar minha solicitação, mas senti que tinha feito minha parte, e depois, era questão da consciência de cada um. Aliás, pensava, se o cara quisesse poderia simplesmente dizer que tudo bem, que faria xixi sentado, afinal, a porta estaria fechada, ninguém estaria vendo e ele poderia simplesmente fazer seu mijo inocente tranqüilamente de pé.


Mas nenhum homem que conheci e que não concordava com minha tese mentia. Os que acataram aceitaram numa boa e os que não concordavam simplesmente diziam que eu estava louca ou inventavam uma historinha para justificar sua atitude e ponto. O interessante é que essa dignidade demonstrada, a meu ver, não estava relacionada ao fato de não mentirem e sim na suposta dignidade da manutenção de seu status de homem, em sua masculinidade, no 'direito sagrado' de mijar em pé.


Aliás, há certos indicativos que colocam o fazer xixi em pé como algo meio superior da referência à masculinidade, tanto que há expressões tais como “vai começar a fazer xixi sentado?” ou “só falta fazer xixi sentado” para falar de alguém que é gay ou com comportamentos considerados pouco adequados ao padrão socialmente aceito como masculino.


Imagem: http://www.wordpress.tokyotimes.org/

Contudo, para além dos embates entre mulheres e homens ao tratar dessa questão há que se considerar a pauta da higiene. Nesse sentido, encontrei desde manuais de instruções que ensinam aos rapazes etapas para que seu xixi não se desvie do sanitário até o Angel Lap Pillow, espécie de sapatinho criado pelos japoneses para que o sujeito fique ajoelhado próximo ao sanitário, também evitando que o xixi suje o vaso e o chão, tudo para tentar conciliar uma higiene básica à suposta necessidade masculina de ficar em pé para urinar ou a dignidade de, pelo menos, não ter de fazer xixi sentado.

De qualquer forma, tenho observado que rapazes e homens que não se sentem tão pressionados por essa necessidade de afirmação heterossexual ou da famigerada masculinidade aceitam como algo tranqüilo a proposta de fazer xixi sentado no banheiro de sua casa. Em geral são homens mais jovens e mais abertos à idéia de que sua masculinidade não está atrelada a padrões rígidos do que é ser homem e, portanto, em sua intimidade não precisam se preocupar como se estivessem sendo observados o tempo todo para provar essa suposta macheza.


Outra coisa importante é, enquanto mães, nos refletirmos sobre como oferecer uma educação mais libertária para os meninos, desprendendo-os de símbolos como esses e outros que atrelam a masculinidade a padrões tão estreitos conceitualmente bem como a essa rigidez do não sentir, do não chorar, da não sensibilidade, da não delicadeza. Da mesma forma, cabe repensar a educação para as meninas, refletindo sobre esse formato ainda tão repressor se comparamos pequenas atitudes que diferenciam o tratamento dado a meninos e meninas numa mesma situação, como a exemplificada na primeira parte desse texto, em que meninos são livres para fazerem xixi em lugares públicos.


Quando comecei esse texto o fiz para ver se conseguia amenizar ou pelo menos elaborar um pouco minha indignação justamente sobre essa situação de ver caras mijando onde bem entendem.


Pois bem, dias desses estava indo pegar o Chiquinho, meu palinho popular 1.0, estacionado em frente a uma agência bancária. Logo ao atravessar a rua notei dois sujeitos indo em direção ao lugar onde ele estava e da maneira como foram mexendo nas bermudas imaginei que iam fazer xixi ali. Um deles, inclusive, foi bem na direção do Chiquinho, o que me fez perceber com desgosto que eu ia chegar para abrir o carro e o cara estaria ali, ao meu lado com o pinto de fora atirando urina pra todo lado.


Cheguei perto do carro e, não bastasse o cara estar ali nessa atitude indigna, observei que por todo o pneu do Chiquinho escorria mijo. Fiquei tão incomodada que sem avaliar aquele receio que normalmente temos nos grandes centros urbanos - e por isso muitas vezes não reclamamos, receosos de pessoas encrenqueiras ou loucas ou, pior, ambos - falei num tom de repreensão meio puxão de orelha meio 'não estou acreditando': “porra meu, mas no pneu do carro?” E ele, que provavelmente não pensou que fiquei cogitando se haveria alguma relação entre homens e cachorros, xixis em pneus e demarcação de território, respondeu meio envergonhado “desculpa fia”.



texto tirado de


3 comentários:

  1. Oie amiga que saudades, adorei o post, aff isso é triste né, mais isso é fato no brasil, beijinhos linda
    http://rodicasfemininas.com/

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  2. Tem horas que seria bom eu poder fazer xixi em pé! kkk
    beiijos

    http://femmedouce.com

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  3. Oi flor.. nossa que post controverso esse. Homens mijam em pé na rua por que as mães não sabem ensinar. Imagina se isso no passado á 50 anos atras vamos dizer, se um homem estivesse mijando na rua e passasse uma senhorita.. isso ia contra a moral e os bons costumes da época. Ia ser um verdadeiro caus. Hoje em dia o povo perdeu a moral, os bons costumes e a vergonha. E, tende a piorar e muiitooo.

    http://juliana-editions.webnode.com

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